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Acessibilidade em Condomínios: Uma Jornada para Inclusão

Foto do escritor: Carlos CapuchinhoCarlos Capuchinho

Recentemente, enfrentei um desafio que, embora esperado, trouxe mais obstáculos do que imaginei: a luta pela acessibilidade em um condomínio.


Tudo começou com uma reunião com o síndico e alguns moradores de um grande condomínio em São Paulo. O convite surgiu após alguns condôminos levantarem a questão sobre acessibilidade, devido à dificuldade de um visitante acessar o local.


Estava animado com a conversa e a possibilidade de um novo trabalho, mas logo percebi que a resistência seria um grande desafio.


O síndico, um senhor experiente e pragmático, iniciou a reunião com um argumento comum, que já escutei diversas vezes: “No condomínio, não temos moradores que precisem de cadeira de rodas.”


Expliquei calmamente que a acessibilidade não se destina apenas a cadeirantes. Ela é essencial para idosos, crianças, pessoas com mobilidade reduzida temporária, obesos e gestantes. A acessibilidade é para todos. No entanto, ele permaneceu cético.


A próxima objeção foi mais inusitada: “A adaptação do prédio pode comprometer a estética e o projeto original do prédio”. Pacientemente, explanei que a acessibilidade é uma obrigação legal, a legislação vigente visa garantir que todas as pessoas, independente de suas condições físicas, sensórias ou cognitivas, tenham acesso igualitário aos espaços e serviços.


Diversos imóveis tombados e de grande valor histórico e arquitetônico também foram adaptados a acessibilidade, sem isto comprometer sua estética ou projeto original.


A resistência era evidente entre quase todos os presentes, até que veio a principal objeção: “Temos outras despesas mais urgentes no condomínio” Um dos moradores foi ainda mais direto, afirmando que os custos superavam os benefícios. Precisava mostrar que a acessibilidade é um investimento em qualidade de vida e inclusão, não um custo extra.


Foi quando compartilhei a história de uma moradora do condomínio, mãe de um amigo meu, idosa, com grandes dificuldades para subir escadas. Ela saía raramente de casa porque se sentia insegura com as escadas e desníveis existente no condomínio.

 

Expliquei que uma simples rampa poderia melhorar significativamente a vida dela. Alguns rostos na reunião começaram a suavizar.


A acessibilidade também beneficiaria crianças que poderiam brincar em áreas comuns mais seguras, pessoas que temporariamente sofressem acidentes ou passassem por cirurgias, e até mesmo gestantes que precisavam de cuidados extras.


Não era só sobre os moradores: funcionários e visitantes do condomínio, como porteiros, faxineiros e entregadores, também se beneficiariam de um ambiente acessível.


Existe uma tendência a ver a deficiência apenas como uma condição permanente e visível, como a mobilidade reduzida ou a cegueira. No entanto, a acessibilidade também é crucial para pessoas com deficiências temporárias, idosos, gestantes, pais com carrinhos de bebê, com doenças crônicas ou problemas de saúde mental.


Ao longo da conversa, consegui desconstruir o argumento que mais me incomoda: “No condomínio, não temos moradores que precisem de cadeira de rodas” que logo mudou para: “E se tivermos no futuro?”.


Convencer sobre a necessidade da acessibilidade para todos é desafiador, mas fundamental para a construção de uma sociedade inclusiva. As pessoas entendem melhor a necessidade de acessibilidade quando são expostas a experiências e relatos pessoais de quem enfrenta barreiras diariamente.


Em outro texto já tinha dito do quanto me impactou o primeiro curso sobre acessibilidade, que fiz em 1997 pelo CREA-SP, onde foi proposto um exercício de vivência, andar com uma cadeira de rodas em um determinado espaço. A situação muda quando você calça o sapato do outro e entende sua dor.


Ao final da reunião, consegui convencer o síndico e os moradores a elaborar um levantamento e desenvolver um projeto de adaptação, com um cronograma físico-financeiro para implementação gradual, sem causar problemas no caixa do condomínio.


Também discutimos a necessidade de obter a aprovação da Prefeitura e o Certificado de Acessibilidade, garantindo segurança jurídica para o síndico e conselheiros.


A parte mais assustadora foi quando simulei os custos dos emolumentos para a Prefeitura e compartilhei com todos, mas isso é uma história para outro texto.

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Especialista em Legalização Imobiliária e Licenciamento.

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